Ele olhou nos olhos negros e convidativos dela.
Ela retribuiu, com um leve sorriso sedutor nos lábios.
Eles se aproximaram, como velhos amigos e amantes.
Então hesitaram.
Até ai, temos uma historia comum, de duas crianças que cresceram juntas, de dois amigos que um dia descobriram o despertar do amor. Mas esses dois, Ana e João, para dar nomes ao bois (talvez até fictícios, não sei ao certo), não eram um casal. Não por vontade própria mas por vontade de um destino.
-Você parece um menino nesse uniforme - disse João, com desdém
Ana riu, deslizando as mãos, provocativas, pela saia justa e longa que nada se assemelhava a um uniforme masculino. Exceto, talvez pelo fato das condecorações presas ao corpete de metal mostrassem que ela ocupava um alto cargo no exercito do seu pais.
-E você parece uma menininha com essa roupa e comerciante- ela respondeu, dando um ar mais informal ao encontro.
-O que faz fora do castelo? não devia estar servindo ao país? - ele provocou.
-Folga - ela respondeu, radiante- Ate os mais imprescindiveis merecem um descanso
-Modesta como sempre - ele falou, se aproximando.
Então eles, contrariando qualquer regra social se abraçaram longamente, como a muito tempo não faziam.
-Por que você foi entrar nesse maldito exercito? Agora posso ser preso apenas por conversar com você. - ele disse, num misto de revolta e decepção.
Ela apenas abaixou o olhar, insatisfeita. O tempo no castelo havia desacostumado Ana à decepções. Todos a respeitavam e faziam suas vontades, poré, pela primeira vez ,em muito tempo, ela via as coisas saírem de seu controle.
-Queria que você tivesse passado naqueles testes.
-Eu devia ter treinado mais com você- ele riu- Ou talvez ter competido com um adversário mais fraquinho.
-Realmente, você era muito mais bonito antes dessa cicatriz horrorosa - Ela disse acariciando de leve a marca deixada pela espada adversaria na pele branca do rosto de João.
-Ousada. - ele brincou afastando o toque dela.
Eles se olharam, Ele desviou o olhar.
-Ana- ele parou, voltando ao contato visual, mesmo que os dois ainda mantivesse certa distancia-Largue tudo e vamos fugir juntos pra onde não tem essas regras tolas de castas.
Os lábios dela abriram no inicio de uma frase. Mas nenhum som saiu. Alguns minuto se passaram, até que ela finalmente disse, apática:
-É tarde, eu encontrei meus destino, minha missão. Se eu fugir, deixarei parte de quem eu sou para trás. É incerto demais, não seria feliz sabendo que para estar com você devo deixar de ser a pessoa por quem você de fato se apaixonou.
Ele não disse nada, apenas olhou em volta e percebendo que não havia ninguém os olhando tomou-a em seus braços num beijo derradeiro. E por uma ultima-e única- vez, seus corpos ficaram unidos nos segundos de felicidade que eles levariam para sempre enquanto estivessem cumprindo suas obrigações.
E sem dizer nada, eles se afastaram e foram viver suas vidas. Como dois paralelos, que só se encontram no infinito.