quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O menino do meu quarto

Eu acordei no meio da noite. Sentei na minha cama, passando a mão pelo pescoço e olhos. Foi quando olhei pela janela, como de costume, e percebi que havia sangue na minha cortina. Era uma pequena manchinha, no cantinho, mas ela claramente sangue, um sangue que havia se tornado comum pra mim. Passei a mão nele e cheirei, confirmando minhas suspeitas. Aquilo não era sangue normal. Era sangue de vampiro, quer dizer, tinha passado por um vampiro pelo menos.
Coloquei a mão no meu pescoço de novo, checando se havia sido mordida, enquanto pensava como minha vida era louca! Eu atraia seres sobrenaturais. Se eu não os chamasse (coisa que eu só fiz uma vez, mas por engano, e não foi muito legal, se é que você me entende) eles me encontravam. Vinham até a mim, pediam a minha ajuda, tentavam me matar ou fazer amizade. Principalmente me matar. E agora eu me dava conta de que um vampiro me mordera, mas que por sorte ele não havia me transformado. Pensei em quem poderia ser, havia tantos! Mas não podia ser nenhum deles, eles não podiam entrar na minha casa. Logicamente, esse seria um vampiro que eu havia convidado pra entrar? Quem? Foi quando eu ouvi um ruído no corredor. Agarrei uma estaca que sempre ficava no meu quarto. Minha respiração tornou-se mais rápida, assim como meus batimentos. Eu estava pronta pra lutar (ou correr). É claro que eu, vivendo no meio de seres poderosos e mágicos, tinha também meus “poderes”, como eu chamava. Uma visão melhor, uma audição mais aguçada, uma percepção melhor de coisas que os outros ás vezes não conseguem ver. Eu me deitei preparada. Foi quando o vi, meu vampiro. Apareceu sutilmente, nas sombras do meu quarto. Uma pessoa normal não teria percebido sua entrada, e nem eu, se não estivesse à espera. Estava na verdade morrendo de medo daquele vampiro desconhecido. Foi quando ele saiu para o feixe de luz da lua que atravessava meu quarto. Estava de jeans, camiseta e tênis, o cabelo bagunçado, os olhos num brilho feroz e amedrontador. Então eu o reconheci, já tinha visto aquele menino na minha rua. Eu conversei com ele, e ele pediu um copo d’água, e eu convidei-o pra entrar. Meu Deus, que burra! Eu chamei um vampiro pra minha própria casa, apesar de sentir que ele era diferente. Ele se aproximou, tocou meu braço e mostrou as presas. E eu acertei seu braço com uma estaca, e ele a retirou, espantado. E falou comigo:
“E então, lembra de mim, meu anjo?”
Sua voz era macia. Eu respondi, tentando parecer má:
“Lembro.”
Ele deu um sorriso torto e se aproximou, prendendo minhas mãos. Eu senti medo, queria fugir, mas talvez não tanto assim.
Ele se aproximou do meu pescoço, e eu, crente que ele iria me morder, comecei a tentar me soltar. Foi quando ele desviou do meu pescoço e me beijou. Eu não sabia se devia matá-lo ou não. Optei por beijá-lo, depois decidia o resto. Afastamos-nos, ele sorrindo, e eu soube que ele não me mataria, não naquela noite. Ouvi outro barulho, minha irmã. Ele caminhou para a porta do meu quarto, parando lá quando eu perguntei:
“Qual seu nome?”
“Arthur Zac. E o seu?”
“Annie Blanc. Posso esperar te ver de novo?” – Sussurrei.
“Claro.” – Ele falou, também num sussurro.
Ele soprou um beijo no ar, e eu sorri, recebendo o beijo e mandando um de volta. Eu limpei uma gotinha de sangue que vinha do meu pequeno cortezinho no pescoço. Ele sorriu e desapareceu nas sombras, e eu voltei a dormir.

J.U. Pellegrini

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